O ex-presidente Lula é diagnosticado com câncer. Eis o ponto de conflito: deveria ele tratar-se pelo Sistema Único de Saúde ou receber atendimento em um dos hospitais mais luxuosos e bem preparados, como o Sírio-Libanês?
A questão em si não é a de que ele apenas está buscando o melhor tratamento possível, dentro de suas condições financeiras, como qualquer pessoa faria, o ponto crítico é que, enquanto ele terá atendimento de mais alto nível, onde só os ricos e poderosos têm acesso, cidadãos comuns como você e eu morrem esperando numa fila de 2, 3 anos para conseguir atendimento pela rede pública.
O SUS é ruim? Em partes, mas, na sua essência, o Sistema Único de Saúde tem tudo para ser um dos melhores do mundo. Por que então não é?
Mário Cândido de Oliveira Gomes, especialista em doenças infecciosas e parasitárias, afirma que “o SUS tem milhões de defeitos, porém, apesar dos problemas e da vergonhosa classificação do Brasil no ranking da OMS, é fato que a qualidade da saúde do brasileiro melhorou muito na última década, permitindo prever, afastada a corrupção, a indolência e a má vontade de certos setores da saúde, um progresso ilimitado”.
O senador Osmar Dias (PDT-PR) denunciou recentemente no Congresso que “a arrecadação cresce, mas o governo investe cada vez menos” e ironizou, destacando que “se o governo não investe em saúde, em educação, não está cumprindo sua função social e deve ser desapropriado”. (http://cidadesdobrasil.com.br/cgi-cn/news.cgi?cl=099105100097100101098114&arecod=27&newcod=1020)
É uma lástima que algo tão belo na forma como foi concebido, como o SUS, tenha fama de ruim entre a própria população. O Sistema Único de Saúde foi uma conquista da população brasileira, sem ela, nada disso teria sido possível (ver Constituição de 88 e 8ª Conferência Nacional de Saúde).
Verbas mal administradas, investimento insuficiente por parte do governo, falta de participação popular no controle social do SUS... Não há como definir com exatidão o vilão da história, aquele que faz do SUS ser tão mal visto. É fato que ainda há uma longa jornada pela frente para que as condições da saúde pública sejam as ideais, mas algo tem sido feito para mudar isso? Aí voltamos à questão do início do texto, eis a resposta do porquê Lula não vai ser tratar na rede pública: ele tem condições financeiras, e como todos os abastados financeiramente neste país, não vai se sujeitar à fragilidade do SUS!
É uma pena, pois, se todos os políticos fossem usuários do SUS, atitudes para melhorar a qualidade do sistema seriam tomadas, de mesmo modo que, se seus filhos estudassem em colégios públicos, com certeza a qualidade do ensino melhoraria.
Não quero que me entendam mal, não estou fazendo pouco caso da doença de Lula, muito pelo contrário, minha indignação é contra a estagnação em que a saúde pública, bem como outros aspectos no Brasil.
Mas, reclamar da situação não mudará nada. O povo tem de unir-se, informar-se, todo cidadão tem direito e dever na participação social no SUS. Corrupção existe? Existe. Mas, enquanto ficarmos de braços cruzados, olhando o descaso de braços cruzados, nada irá acontecer. No momento em que participarmos mais do controle social do SUS e a alta sociedade tornar-se usuária da rede pública de saúde, aí, meu amigo, a coisa vai ser diferente... Porém, se mantivermos o preconceito de que "o SUS é ruim", não podemos esperar que políticos queiram utilizar o sistema, então, muitos como o Lula irão buscar auxílio em hospitais privados e menos irão importar-se em investir para que o público tenha melhor qualidade!
